segunda-feira, 18 de outubro de 2010

doidera

Que maluco isso que acabou de acontecer. Eu fui comprar minha passagem, Manaus/Brasília, comprei pelo cartão nesse lugar chamado internet. Acontece que o email veio: "seu cartão não foi aceito". O cartão que nem é meu, mas da mamis, é normal, sei lá, como os outros que andam nos bolsos por aí afora. Mas não foi aceito o coitado, coitada é de mim que entrei numa loucura desesperada de que ia ficar presa nessa cidade meio sem, meio com graça, da qual pro sul só pelo ar ou de barco é que se vai.
Fiquei não sei quantas horas tentando resolver um problema que nem ao menos eu sabia se existia... mentira, pra mim eu estava perdida, sem saída, presa num fim do mundo, do Brasil olha que aqui eu encontro Marlboro pelo preço normal, que não é barato, mas é normal, às vezes é até bom um bocado de normalidade, só pra ver o tamanho do drama, fim do mundo não é aqui.
Fumei um cigarro, o Marlboro, aquele de quatro reais, óbvio, pra me acalmar.
Quis voltar pra casa, ir pro Mato Grosso, ir pra Minas, pro meu sítio, pro diabo que carregue, pra casa do caralho. Mas não fui a lado algum, a não ser esse lugar, o chamado internet. Voltei entrei pela milhonésima vez nos sites de passagem, só pra ver o que não tinha, o que não era possível, onde eu não ia chegar.
E o que foi que eu fiz? Comprei a passagem de novo, dessa vez mudei a data inventada de validade do tal do cartão, até então parece que deu certo.
Pois é por isso que estou escrevendo, esperando a boa notícia daquele email escrito "seu cartão não foi aceito" simplesmente não chegar, e por enquanto não chegou, agora fui lá conferir. A primeira compra foi realizada por mim mesma às 00:49, o email de cartão desaceitado chegou às 01:21, meia hora de alegria e mais três de desespero, a segunda compra foi realizada apenas às 3:58, dá pra imaginar a situação... será?
Agora estou aqui nessa espera de não chegar, e que por favor não chegue, por obséquio, pelo amor, estou num albergue lotado e sou a única acordada, nem o recepcionista resistiu, 4:32 da madrugada, vai ela andando rápido, acho que esperarei o café.
Hoje não vou dormir PUTA QUE O PARIU, CARTÃO NÃO APROVADO! Que diabos, mais uma vez o desespero me domina e agora vou relatando-o em tempo real.
O pior é que pode muito bem acontecer de amanhã essa passagem que nem barata é, mas é a mais, não existir mais pra mim. Aí a consciência de gastar mais dinheiro vai pesar, sei lá, por que não fiz isso antes, por que sempre espero a última hora, essas merdas todas que a gente vai pensando quando não tem o que pensar a não ser merdas...
Estava me sentindo tão bem no começo do email... tão aliviada, agora tudo de novo. Um menino acabou de passar para ir no banheiro, estou com vergonha de estar aqui sentada em frente à essa máquina, às 4:38 da madrugada de um domingo em Manaus, cidade meio ilhada, meio feia, meio interessante, meio cortada do mapa. Sei lá, é uma sensação desagradável.
Pouco interessante isso tudo, mas precisava escrever, ver o tempo passar, talvez devesse ter ido dormir logo no primeiro email de cartão não aprovado e não esperar por mais cinco horas de estupidez e desespero, meio desamparada, completamente desamparada.
Ufa, vou lá fumar, quem sabe escrever no diário, que é o mais normal ultimamente, por mais que do ultimamente de verdade não tem participado o caderno, digo, diário. Mas preciso ir ao banheiro de novo, falta uma hora pro café da manhã, não uma e meia.
Bosta

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O Pouso

Foi quando cheguei aqui, quase noite, o sol se ia. Olhei pro céu, uma mancha se movia.
Alto, alto iam dançando, um espetáculo sem nada a pagar, sem fila de entrada ou lugar marcado, era ao ar livre, no ar.
O pôr do sol, que costuma roubar minha atenção, nesse momento foi mero cenario, ainda que belo, para as centenas de bailarinas andorinhas, protagonistas, que desfilavam em praça pública, rodando, girando em volta de nem sei quê. Parecia que não queriam chegar a lugar algum, apenas se exibiam.
Apontaram-me ao ver meu deslumbramento, onde elas pousariam, quase quis imaginar, mas prefiri simplesmente esperar.
Então, por um descuido em má hora, quando petelequei uma formiga que me escalava, perdi o final tão aguardado. Olhei para o céu em vão, vazio a não ser por Vênus, a primeira estrela que se descobre no escuro. Perdi o último vôo e o pouso que o seguia.
E Deus do céu, que mistério de outro mundo, pois anoitecia e anoitecia e era a mesma coisa todos os dias. Uma vez foi minha priminha arretada, puxando minha camiseta pra ir com ela no quintal pegar jambo no pé, bem na hora da descida.
Outra vez olhei pra minha tia ao perguntar como se sentia, pois naquele mesmo dia alugara a padaria que há quese trinta anos gereia.
Ontem mesmo senti um cheiro já conhecido e desviei o olhar para aquele jumento celestino, a quem eu daria o nome de Coitado, maltratado que é o bichinho. Meio manco, despelado, anda sem rumo por aí afora. E foi assim dia após dia.
Por mais que eu desejava ver e tanto me empenhava, tudo me distraia. Parecia meus sonhos acordada, sem desfechos e repetidos todo dia, mas o último ponto não deixo.
E foi hoje, já vai fazer mais de hora, que venci esse tormento de nada nunca terminar, nem o vôo das andorinhas. Sai de casa pra calçada, mesmo horário, quase o mesmo lugar, pois quando se olha pra cima, não importa muito de onde se faz.
Lá do alto, como sempre, do mais alto começaram, o balé se movendo leve, livre, as andorinhas indo e voltando, descendo aos poucos, subindo um monte. E me enganavam e me envolviam. Eu sabia que era o dia.
Meus olhos como que presos por um forte fio de nylon à revoada dos passarinhos não tinham outra opção. E assim fiquei calada a admirar, e nada me distraiu, nada me desviou o olhar.
Ai, que quase me dói, arranharam o vento, rasgaram o céu, rápido e violento, parecia mais um adeus, desses pra não dar tempo de arrancar as lágrimas tradicionais. De uma beleza razante, nem sei se cabe o adjetivo, mas que dúvida, tudo cabe.
Assim terminou minha sina de não ver o pouso ferido. E dormiram no meio da rua, no fio da luz, no escuro, e não mais as vi quando tudo se apagou. Só sei que quando acordo lá elas já não estam, e preparam-se durante o dia pra amanhã de novo atacarem.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

E é tanto que penso em estrada
e nela nem mais eu tô
faz falta essa disgramada
ela que quer chegar
e que quando chega tem mais
porque a bendita nunca acaba

IÊS
Quero sair pelo mundo
de olhos vendados pro medo
e bem apertos para o prazer
E como é possível tal desejo?
um descoberto e um tapado?
Ou filtro o que não almejo...
pouco fácil
E onde diabos será que eu me perdi? Ou que seja apenas um pedaço desintegrado de mim que um dia sem avisar saiu pela madrugada sozinho e me abandonou. Maldito, puta sacanagem. Agora prepare-se pedaço, partirei em busca com único objetivo: trazê-lo de volta e uni-lo a mim. Pode ter outro formato ou consistência, não me importo, vai encaixar, vai caber. Tudo cabe.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

E hoje
quem é que eu sou?
Sou criança desgarrada,
adulta na caminhada,
senhora da minha vida
ainda tão pouco traçada
graças a deus
eu diria
e eu peço todos os dias
que não me amarre o destino
que não me faça uma só
com tanto caminho e
estrada

domingo, 22 de agosto de 2010

em viagem

Saio de minha cidade
ainda buscando as asas
acho, perco, reacho
encontro-me num riacho
perco-me lá no morro
inspira um pôr do sol
até que nada me prenda
e eu saiba rimar
liberdade
Rima fácil e complicada
que flutua e cai
levanta vôo e pousa de novo
me adormece e me desperta assustada
aí tem vez que é pesada a tal
que me pesa mais que a carga
mas peso bom de se levar
que vale a dor que me traz
os ombros querem ir embora
e a mochila quer ficar

terça-feira, 13 de julho de 2010

(puta gramática incompreensiva, pronome e plural se escreve igual)

Não, eu não nasci assim toda envolvida por fios, amarrada enrolada imobilizada
é por isso que tento alcançar o estado recém nascido, e então vou desfazendo os nós.

em certas medidas curtas desato-os.
ás vezes quando corto a unha rente à carne fica mais difícil, tenho que esperar que cresça outra vez para só então recomeçar meu trabalho de libertação
às vezes umedeço os fios, às vezes encharco, pra ver se surte algum efeito
e de fato, vez ou outra ajuda, vez ou outra atrapalha

não uso tesoura porque não quero cortar nada, apenas desatá-los, que fique bem entendido
não quero romper os mundos que me orbitam, que convivam sem nós interrompendo-os


terça-feira, 29 de junho de 2010

Então sensatamente amarrei a fase boa ao pé da cama, pois ela já vinha dando sinais de cansaço. Se fosse voando pra Alagoas ou Pernambuco eu a deixaria partir, mas não é pra lá que quer ir, desconfio que sumirá por mais muito tempo, e vai saber quando voltará...
Por isso a manterei bem presa, e quando sair de casa levarei na mochila, toda embrulhada, toda guardada. Ai fase boa, que boa que é você, fica aqui comigo, fica, prometo amor, ciúme e carinho. Juro nunca mais nem olhar pra fase ruim, pra mais ou menos.
Vamos viajar de motorhome e conhecer o Parque do Guimarães, aí, fase boa, seremos uma pra sempre, aguenta só mais um pouquinho.
Pronto, e o Guto e a Adelitinha também vão nos ajudar.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

"o ciúme lançou sua seta preta"

E agora, meu deus do céu, onde vou colocar todo esse ciúme?
Lado diabo do amor
ele cresce e se desenvolve
ele vai se nutrindo de mim, do amor todo que estou sentindo
eu que quase o tinha esquecido
e agora ele me encontrou, me mostrou que existe
como sempre a me desesperar
desperta uma coisa ruim, desperta o inferno do amor
por isso, meu deus do céu,
não o deixe me levar
não permita que ele alcance
seu desejo de loucura
a quem o sente assim,
sem medida.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

E lá estava eu, com o amor escancarado
no rosto, escrito na pele quase morena.
não olhava para que não o descobrissem.
o amor escancarado, pedindo pra ser visto,
queria deixar meu rosto e sair por aí.
eu que não deixei.
que ficasse por aqui
escancaro, mas não liberto
apenas
alimento e guardo

terça-feira, 25 de maio de 2010

música

Sentido mal empregado
dei ao meu pensamento
na noite em que me fui de mim
deixei-me sentada, calada
sem a alma condenada
a sentir o que não faz feliz

E fui pra rua
sem meu corpo, sem a cara
procurar pelas calçadas
outra alma; quase nada
e formar um novo amor

voltei pra casa com o pranto solitário
e meu corpo não estava
me perdi e fui roubada
foi o tempo quem levou

Daí tirei crua conclusão,
alma sem corpo não ama, não
me vi só metade derradeira
e sem ter mais solução
fui viver na Lua Cheia

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Pajé E.T. 3/12/1996

Era uma vez um pajé que morava numa oca gigante e verde. O pajé era cheio de bolinhas amarelas e de verrugas roxas. Tinha quatro pernas, dois braços, duas cabeças e não tinha orelha, mas ouvia muito bem.
Certo dia o planeta Terra se cansou de tanto que o pajé brigava com os índios e declararam guerra. No dia da guerra, os índios pegaram lanças, flechas e arcos e o pajé pegou apenas jatinhos de água. Começou a guerra. Os índios jogavam as lanças e atiravam as flechas e o pajé atirava água pensando que ia acabar com as lanças e flechas.
De repente a água do pajé E.T. acabou. Os índios pararam de atirar e o pajé E.T. desceu da oca. Quando chegou perto dos índios foi aplaudido por ter com seus jatos de água limpado toda a Terra e regado as plantações.
E assim acabou a guerra e o pajé e os índios ficaram amigos.

terça-feira, 20 de abril de 2010

dor de amor?
que tolice, puta tempo perdido!

tanta coisa pra doer e vai doer logo o amor...
não sabe amar sem sofrer?

não dá?
já tentou uma vez sem querer,
por querer
por acaso
engano, sei lá?

já.

e não deu?
que pena, amor sem dor é quase que não existe, mas dizem que sim e eu acredito
não, nunca tive, mas melhor acreditar que ficar sentindo saudades de amar
e fingir que é da dor
Admito que às vezes a dor me faz falta
claro que não quero vivê-la, não é isso

dá pra explicar?

não sei, dá?

dá sim, porque eu dizia sobre a dor de amor, que acima ocultei.
dor de amor faz falta
dor de amor me causa
me arrasta, infesta, devasta, treme
e isso me faz falta
às vezes

dor de amor é tardia, é presente, destino dado, mal pago
é tão linda...
a dor do amor me escreve em mim
se enrosca em mim, acolhe todo o sofrimento nela só

dizem que ela inspira, respira, repete
suspira como nunca.

é, dor de amor, que saudades...

quinta-feira, 18 de março de 2010

eu queria

Desci a ribanceira, a cidade ainda estava com cara de inundação, mas apenas por causa dos resquícios deixados pela água, que já baixara.
- Entra aí, menina, eu te levo lá.
Entrei, mesmo sem saber ao certo onde era o "lá". O carro, um passat laranja com a pintura um tanto cravejada pelo tempo. Dentro estavam mãe, pai, o motorista, e três lindas crianças. Todos de olhos puxados verdes e cadelos castanho claro cacheados; lindos.
No banco de trás me expremi entre os dois meninos mais velhos, que deviam ter por volta dos dez anos. Ana, a pequena, dormia abraçada a um hipopótamo cinza sujeira e babava em sua cabeça. Os meninos faziam piadas sobre a baba da irmã que nem em sonhos os ouvia.
Eu ria de tudo com certa desconfiança, para onde estávamos indo mesmo? Não conseguia me lembrar.
Passamos de passat por lama por cima e por baixo das casa daquela pequena cidade. Até que descemos todos. Abandonamos o carro com total desapego, dizem que desapego em viagem é o melhor dos sentimentos.
Atravessamos mata fechada, Ana já acordara e ia no meu colo com ainda com seu hipopótamo babado. Os irmãos corriam na frente provocando gritos de cuidado da mãe. Enfim deparamo-nos com um riacho pequeno, pouco tamanho pela quantidade de água, mas era largo.
Eis que surge minha amiga Estrela cantora, Bruna. Ela andava em sobre seus quatro membros, como um bicho. Vestia uma blusa rosa toda cheia de terra. Provocava amigavelmente as crianças, inclusive a pequena que já saltara dos meus braços cheia de curiosidade.
Nossa nova acompanhante não falava, rosnava e mostrava os dentes. Mais uma surpresa no riacho. Galo, o amigo cantor poeta, surge com sua máquina fotográfica e começa a registrar tudo o que vê. Seu cabelo estava comprido e bonito, os olhos mais verdes e brilhantes que nunca. Que nunca, engano prévio meu, pois nesse momento escutamos todos um barulho molhado de água muita correndo, corremos para as margens. A água desce e toda aquela largura antes apenas marca, fica toda inundada. Espetáculo.
Família, carona, amiga fera e amigo bicho, entram no rio cheio, caminham seguindo seu perscurso. As crianças iam hora no colo, hora na água de mãos dadas apesar das reclamações contínuas.
(batem na minha porta, acordo seca e sozinha.)

quinta-feira, 4 de março de 2010

ADEUS MESMICE

Adeus mesmice,
meus sentidos pedem novos sentidos.
meus cadernos querem novas palavras,
e os ouvidos outras notas.

adiós mesmice,
minha cara já não cabe mais nesse rosto,
minhas roupas já não entram nesse corpo.

Vá mesmice,
aqui não tem mais espaço pra te viver
reunimo-nos contra você,
acendemos pra te apagar
crescemos ao te dizimar.

E vá com deus e o diabo pra outras terras
deixe-nos sem paz, essa queremos só na guerra
aqui batalhamos para que os dias não sejam iguais,
que os bares não sejam os mesmos

Não chore mesmice,
de você há quem goste.
Nós não, aqui tua palavra não tem sentido
e seu sentido a nós não faz.

Adeus mesmice,
e sinto lhe informar
que vai tarde e
que saudadeS não deixará