quinta-feira, 18 de março de 2010

eu queria

Desci a ribanceira, a cidade ainda estava com cara de inundação, mas apenas por causa dos resquícios deixados pela água, que já baixara.
- Entra aí, menina, eu te levo lá.
Entrei, mesmo sem saber ao certo onde era o "lá". O carro, um passat laranja com a pintura um tanto cravejada pelo tempo. Dentro estavam mãe, pai, o motorista, e três lindas crianças. Todos de olhos puxados verdes e cadelos castanho claro cacheados; lindos.
No banco de trás me expremi entre os dois meninos mais velhos, que deviam ter por volta dos dez anos. Ana, a pequena, dormia abraçada a um hipopótamo cinza sujeira e babava em sua cabeça. Os meninos faziam piadas sobre a baba da irmã que nem em sonhos os ouvia.
Eu ria de tudo com certa desconfiança, para onde estávamos indo mesmo? Não conseguia me lembrar.
Passamos de passat por lama por cima e por baixo das casa daquela pequena cidade. Até que descemos todos. Abandonamos o carro com total desapego, dizem que desapego em viagem é o melhor dos sentimentos.
Atravessamos mata fechada, Ana já acordara e ia no meu colo com ainda com seu hipopótamo babado. Os irmãos corriam na frente provocando gritos de cuidado da mãe. Enfim deparamo-nos com um riacho pequeno, pouco tamanho pela quantidade de água, mas era largo.
Eis que surge minha amiga Estrela cantora, Bruna. Ela andava em sobre seus quatro membros, como um bicho. Vestia uma blusa rosa toda cheia de terra. Provocava amigavelmente as crianças, inclusive a pequena que já saltara dos meus braços cheia de curiosidade.
Nossa nova acompanhante não falava, rosnava e mostrava os dentes. Mais uma surpresa no riacho. Galo, o amigo cantor poeta, surge com sua máquina fotográfica e começa a registrar tudo o que vê. Seu cabelo estava comprido e bonito, os olhos mais verdes e brilhantes que nunca. Que nunca, engano prévio meu, pois nesse momento escutamos todos um barulho molhado de água muita correndo, corremos para as margens. A água desce e toda aquela largura antes apenas marca, fica toda inundada. Espetáculo.
Família, carona, amiga fera e amigo bicho, entram no rio cheio, caminham seguindo seu perscurso. As crianças iam hora no colo, hora na água de mãos dadas apesar das reclamações contínuas.
(batem na minha porta, acordo seca e sozinha.)

quinta-feira, 4 de março de 2010

ADEUS MESMICE

Adeus mesmice,
meus sentidos pedem novos sentidos.
meus cadernos querem novas palavras,
e os ouvidos outras notas.

adiós mesmice,
minha cara já não cabe mais nesse rosto,
minhas roupas já não entram nesse corpo.

Vá mesmice,
aqui não tem mais espaço pra te viver
reunimo-nos contra você,
acendemos pra te apagar
crescemos ao te dizimar.

E vá com deus e o diabo pra outras terras
deixe-nos sem paz, essa queremos só na guerra
aqui batalhamos para que os dias não sejam iguais,
que os bares não sejam os mesmos

Não chore mesmice,
de você há quem goste.
Nós não, aqui tua palavra não tem sentido
e seu sentido a nós não faz.

Adeus mesmice,
e sinto lhe informar
que vai tarde e
que saudadeS não deixará