terça-feira, 4 de novembro de 2008

Entre os limos da árvore maior, daquele jardim abandonado, morava uma formiga que só amava amores platônicos. Isso não quer dizer que ela só vivia amores sem toque, não correspondidos. Não, não. Digo isso, pois àquele pequeno inseto, só era amor amado, o platônico.
E não adiantava nada que a rainha lhe mandasse pretendentes formigogaranhões, dos mais lindos e inteligentes do jardim, se dela eles gostassem, pronto, caso encerrado; nada mais.
Claro que ela desejava, como todos nós- bichos e gentes- um final feliz, mas aquela desgraça de platonismo, não a deixava em paz. Chegou até a pensar que havia sido enfeitiçado por uma fada malvada, quando era ainda um ovinho. Mas depois de certo tempo, passou a não acreditar que uma fada perderia seu tempo nisso.
A formiga gostava de cantar e cantava a todos os seus amores- platônicos certamente. Era assim que os conquistava, mostrando palavras que a eles pertenciam. Quando se encantavam, porém, a formiga partia para outro ouvinte, às vezes menos interessante e que nem ligava para ela e suas canções. Mas era sempre isso que fazia e não tinha jeito.
Pois certo dia, a tal "inseta" foi caminhar pelos galhos, desejando que como a rainha e os pássaros, tivesse asas para fugir de toda aquela condição. Encontrou bem lá na última folha do graveto, um besouro encantador.
Moreno, forte, que parecia não notá-la, pronto se apaixonou.
Era amor! Tinha que ser amor, pensava ela consigo mesma. Não o deixaria partir, estava certa disso. Logo pôs-se a cantar palavras que juntava na hora. Estava feliz, a coitada.
O besouro bonitão, contudo, era surdo. Nem sequer a olhou. E a formiga tanto cantou, que acabou perdendo a voz. Ele levantou vôo, ela ficou ali parada, olhando-o partir, sem nem ter como gritar, ou murmurar.
Desde esse triste dia, o tronco ficou mais infeliz, não havia mais pretendentes ou cantoria. Nunca mais amores, a formiga não quis mais. Deitou-se um dia naquela folha do besouro surdo e rolou para baixo tentando voar.

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