quinta-feira, 5 de março de 2009

A DESPEDIDA

Dia 26 de fevereiro de 2009. Um mês após arrancar os queridos dreads da cabeça.
Íamos em direção ao Pontal, mais especificamente à Barra, eu e Tom. Já passava das duas da tarde, pois caímos no sono. Com uma grande fome e sem fósforos para o cigarro, partimos com a sacola de dreads. A decisão de lançá-los ao mar/mangue fora tomada muito antes de cortá-los, estava pois, realizando um sonho de que eles ficassem para sempre em um lugar feliz que não em minha companhia, modéstia a parte.
Passamos antes na vila do Pontal, mas a Associação de Mulheres estava fechada e a fome teve que ser esquecida por mais um bom tempo.
Para chegarmos à Barra enfrentamos alguns, que pareciam milhares, metros de areia que afundava mesmo com a pisada mais leve, que cansaço! Nem olhávamos para o fim da ilha, pois a todo instante os olhos estavam voltados para a areia na busca de uma mais dura, haja batatas da perna... A chegada então foi triunfal, o encontro do mar com o mangue de uma violência que eu nunca antes presenciara e de beleza dessas difícies de achar . Pode parecer imaginação, mas foi o que vi; ondas triangulares que chegavam a espirrar água alto, muito alto. As cores que normalmente fazem-se distintas entre os dois, agora eram uma só.
O Tom, mais corajoso foi ver até onde poderíamos entrar para de uma vez por todas despedirmos para sempre do cabelo. Foi indo, indo, indo, até mais ou menos a cintura. Minha vez, eu o segui com certo receio de encontrar um buraco gigante, cair e ser levada pelas águas sabe-se lá pra onde (minha mania de imaginar tragédias). Mas entrei, eu, a sacola, os dreads e o Tom.
Um a um, os quarenta e tantos rolos de cabelo de origem rastafari deixavam a sacola, haja braço... Caíam nas águas e sumiam. Até que se foram todos e a sacola azul ficou vazia, apenas com aquele cheiro tão característico, que já não faz mais parte de mim.
O mar e o mangue estavam tão fortes ao se encontrarem que levaram os dreads para longe, segundo imaginamos, e de fato durante o tempo que ficamos por lá descansando de tudo aquilo, nenhum voltou à margem, nenhunzinho.
Voltamos cheios de fome e sentimentos de missão cumprida e sonho realizado. Agora todo aquele cabelo há anos cultivado (não cuidado), muito amado por mim, mas que pesava um monte, agora é do mar, e meu desejo ex-secreto é que voltem para a Jamaica.

2 comentários:

Lucas Pernambuco disse...

Que martírio meio triste, meio melancólico. Lindo lioca. Muito pouco do alívio que eu sinto de fora.

Saudades desse cabelinho (o novo, claro)

beijo, Namur.

ana beatriz disse...

sei como é difícil p um taurino se desfazer de algo, ai a gente transforma tudo em lindos rituais para dali em diante nos apegarmos a ele...